Coração é capaz de se regenerar, revela estudo

25-02-2011 11:24

 Primeiro, nos anos 90, descobriu-se que partes lesionadas do cérebro poderiam se regenerar. Agora, uma equipe do Centro Médico da UT Southwestern, dos EUA, mostrou que o coração teria a mesma capacidade. Ao remover 15% do órgão de um camundongo recém-nascido, os pesquisadores constataram que o roedor conseguiu reconstruir aquele tecido. Esta foi a primeira experiência do gênero realizada em mamíferos. Por ter sido bem-sucedida, os médicos cogitam que suas conclusões valham, também, para seres humanos. Assim, foi dado o primeiro passo para o desenvolvimento de drogas que combatam doenças cardíacas, uma das principais causas de morte no planeta.


Os pesquisadores creditam o resultado aos cardiomiócitos, células diferenciadas do coração que se multiplicam muitas vezes durante a fase embrionária, mas param de fazê-lo pouco tempo após o nascimento. A lesão provocada pelo experimento convocaria de alguma forma os cardiomiócitos de outras áreas do órgão para a região atingida. Lá, elas se dividiriam, regenerando os tecidos.O êxito do estudo — publicado na edição de quinta-feira da revista “Science” — levantou uma série de dúvidas. A que atribuir a regeneração do coração? E por que ela ocorre apenas em indivíduos recém-nascidos?

Outro fator, porém, poderia ter um papel nesse processo.

— O estudo não exclui a possibilidade que células-tronco tenham participado da regeneração — alerta Antônio Carlos Campos, coordenador de Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia, que não participou do experimento. — Estas células não têm uma especialização; elas se diferenciam, adquirindo as características de um cardiomiócito. Dessa forma, poderiam ter recuperado a parte retirada do coração.

A regeneração seria privilégio de recém-nascidos porque, a partir de um determinado estágio, os cardiomiócitos deixam de se dividir.

— Um camundongo com apenas um dia de vida consegue regenerar seu coração após removermos cerca de 15% de seus ventrículos, mas um roedor seis dias mais velho não tem essa capacidade — destaca Enzo Porrello, coautor do artigo, ao GLOBO. — Aparentemente ele perde a capacidade de regeneração quando seus cardiomiócitos perdem a capacidade de se dividir.

Conclusões podem valer em humanos

 

A pesquisa também põe em xeque outra teoria já combalida, segundo a qual o número de células é fixo até a morte. Segundo essa corrente, as células apenas ganhariam tamanho com o nosso crescimento, sem novas divisões.

O próximo passo, de acordo com Campos, é entender que mecanismos bloqueiam a divisão das células — e, portanto, sua capacidade de regenerar tecidos — tão pouco tempo após o nascimento.

Porrello é otimista: para ele, o trabalho de sua equipe abre uma porta para novas pesquisas, e a etapa cumprida por camundongos certamente será bem-sucedida em humanos.

— Temos a oportunidade de procurar por genes e drogas que possam mudar essa capacidade regenerativa, para acordar esses mecanismos neonatais em um coração adulto — comemora. — Certamente é possível ver essa experiência no coração humano. Existem até evidências que este órgão em um recém-nascido, após uma lesão, não fica com cicatrizes. Isso já sugere uma capacidade de regeneração.

De acordo com o pesquisador, seu experimento indica o exato estágio do desenvolvimento em que o coração perde a capacidade de regenerar. Com isso, será possível correr atrás do próximo passo:

— A meta é que, um dia, possamos usar essa capacidade, já reativada, logo após um infarto — revela.